"Alguém nesta
cidade tem alguma sugestão para fazer hoje à noite que não seja beber até
cair?", postou outro dia no Facebook uma jovem na faixa dos 30 anos. O
comentário expõe um comportamento difundido entre a moçada - e não estamos
falando dos rapazes, não! É cada vez mais comum encontrar mulheres abusando de
bebidas nas festas e nos bares. Em turma, elas vão tomando uma, duas, três,
quatro, cinco doses...
De fato, as brasileiras estão bebendo mais. As jovens, entre 18 e 34 anos,
consomem o triplo de álcool que as mais velhas; e antes dos 35 anos muitas
estão dependentes da bebida (precisam de doses mais altas para obter o mesmo
efeito e apresentam sintomas como tremor e dor de cabeça na ausência do
álcool). Esses dados foram revelados por uma pesquisa do Instituto de
Psiquiatria da Universidade de São Paulo (USP) que ouviu 5 037 adultos da
região metropolitana de São Paulo e integra um levantamento global da
Organização Mundial da Saúde (OMS).
Mulheres jovens (abaixo de 24 anos) e homens na meia-idade (após os 45 anos)
lideram o uso abusivo (ou problemático), fase anterior à dependência, quando a
pessoa passa a ter prejuízos pelo consumo frequente, como queda no rendimento
no trabalho ou estudo, brigas na família, acidentes de carro. No passado, para
cada cinco usuários problemáticos, havia uma mulher. Hoje, a proporção é de um
para um. "Essas bebedoras desconhecem o limite físico: não sabem que o
organismo feminino é mais sensível aos efeitos do álcool", diz a
psiquiatra Camila Magalhães, principal autora do estudo.
Também preocupa o crescimento no padrão binge drinking, isto é, beber pesado,
que para as mulheres significa tomar mais de quatro doses numa mesma ocasião
(para os homens são cinco). "Às vezes, é difícil para uma garota resistir.
Ela argumenta que na balada todo mundo bebe e não quer ficar de fora",
explica o psiquiatra Arthur Guerra, supervisor do Grupo Interdisciplinar de
Estudos de Álcool e Drogas (GREA) da USP. Ele contra-argumenta afirmando que,
entre os vários prejuízos, o álcool é calórico e pode engordar.
Exagero de calorias
O álcool engorda mesmo! Para dar uma ideia do impacto da bebida na silhueta,
Adriana Kachani, nutricionista do Programa da Mulher Dependente Química
(Promud) do Instituto de Psiquiatra da USP, compara: "Numa pizzaria, é
comum as pessoas se controlarem para não comer três pedaços de pizza, mas bebem
facilmente três chopes pensando que estão economizando calorias". Só que 1
grama de carboidrato tem 4 calorias, assim como a proteína. A mesma quantidade
de álcool oferece bem mais: 7,1 calorias, e a gordura 9.
Também é bom lembrar que a bebida não tem só álcool. Uma caipirinha, feita com
açúcar e frutas, chega facilmente a 300 calorias. O álcool oferece outro risco
à balança: ativa a secreção de cortisol, que estimula as células a armazenarem
gordura no abdômen. Um estudo da Faculdade de Nutrição da Universidade de Ouro
Preto, em Minas Gerais, com 178 universitárias, relacionou o consumo de bebidas
alcoólicas à gordura corporal. E o valor médio da gordura concentrada ao redor
da cintura (o tipo mais perigoso para o coração!) foi maior entre as
participantes que relataram beber.
Se você acha que a culpa é só da cerveja, esqueça! A moda de misturar vodca com
energético fornece assombrosas 470 calorias. Para piorar, as frituras servidas
como acompanhamento extrapolam nas gorduras. Numa conta rápida: se comer quatro
croquetes (cada um tem 87 calorias) e beber uma dose de vodca com energético,
você terá ingerido 818 calorias, o valor de uma farta refeição.
Trabalhos internacionais demonstraram que, independentemente do tipo de bebida,
ela favorece a obesidade e as doenças associadas. A cientista Janne Tolstrup,
do Instituto Nacional de Saúde Pública da Dinamarca, estudou 43 543 homens e
mulheres e também verificou ganho de peso, sobretudo na altura da cintura,
entre os bebedores moderados e aqueles que exageram vez ou outra. Já nos
dependentes, acontece o oposto. Bebe-se tanto que a bebida passa a mascarar a
fome; substitui o consumo de alimentos como fonte de energia e nutrientes, o
que acarreta desnutrição e perda de peso acentuada, que não tem nada de
saudável.
Sem guerra dos sexos
Não dá para defender a igualdade nesse ponto. O homem e a mulher reagem de modo
diferente ao álcool em função de suas características orgânicas. "A
quantidade de água no nosso corpo é menor. Se bebermos uma latinha de cerveja,
teremos 30% a mais de álcool em circulação do que eles", diz Zila Sanchez,
farmacêutica especializada em dependência de drogas e pesquisadora do Centro
Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (Cebrid), da Unifesp. Além
disso, as mulheres produzem menos a enzima encarregada de metabolizar o álcool.
E, nos dias próximos à menstruação, a sensibilidade ao álcool é maior,
favorecendo a embriaguez com doses menores e o risco de desenvolver dependência
mais cedo.
O uso constante e abusivo pode interferir nos ciclos menstruais, alterando a
ovulação e a fertilidade; eleva o risco de câncer (mama, coloretal, boca,
laringe, esôfago, fígado e intestino); aumenta a vulnerabilidade à depressão; e
provoca doenças digestivas, hepatite, cirrose e taquicardia. Nos casos
extremos, pode haver intoxicação alcoólica, coma e morte. "As usuárias
frequentes desenvolvem doenças graves mais rapidamente do que os homens, como
fígado gorduroso, hipertensão e anemia", informa a pesquisadora Priscila
Lopes Pereira, da Faculdade de Medicina de Botucatu (FMB), da Universidade
Estadual Paulista (Unesp).
Prejuízos
graves
Os especialistas lembram que, no dia seguinte, pior do que a ressaca física (dores
de cabeça, náuseas, vômito) é a ressaca moral (sensação de culpa e vergonha).
Depois de deixar as pessoas eufóricas e desinibidas, o álcool atua como
depressor do sistema nervoso central. Ele baixa a percepção do perigo e, com
isso, perde-se a noção de certo e errado. "Cresce a vulnerabilidade a
comportamentos de risco, entenda-se, fazer algo que não faria em condições
normais, como transar com um estranho; subir em cima da mesa e fazer
strip-tease. Para isso, você não precisa beber até cair. Desde a primeira dose
já se expõe a risco. Quanto mais abusar, maiores os riscos", alerta Zila.
Assim, além do perigo de dar vexame, há risco de sexo desprotegido, gravidez
indesejada, doenças sexualmente transmissíveis e atos de violência. Como se
fosse pouco, há outro inconveniente: "Um dia após a bebedeira, você acorda
com tamanha fome que é alto o risco de comer demais e o que não deve",
lembra Adriana Kachani. Por isso, não vá com tanta sede ao copo.
De olho no copo...
Veja quantas calorias você consome ao beber...
• 1 tulipa (300 ml) de chope: 180 cal
• 1 lata (350 ml) de cerveja: 150 cal
• 1 taça (140 ml) de vinho: 93 cal
• 1 dose (100 ml) de prosecco: 71 cal
• 1 dose (50 ml) de vodca: 120 cal
• 1 dose (50 ml) de tequila: 108 cal
• 1 dose (50 ml) de uísque: 125 cal
• 1 copo (200 ml) de caipirinha de pinga ou saquê com açúcar: 300 cal
• 1 copo (200 ml) de gin tônica: 183 cal
• 1 copo (200 ml) de vodca com energético: 470 cal
...e nos petiscos
As comidinhas que acompanham essas bebidas também são calóricas e engordam
• 1 croquete (30 g) de carne: 87 cal
• 1 porção (100 g, em torno de 20 palitos) de batatinhas fritas: 140 cal
• 1 porção (100 g) de salame: 250 cal
• 5 pedaços (75 g) de provolone à milanesa: 360 cal
Calorias fornecidas pela
nutricionista Adriana Kachani, do Promud.
Para não passar da
conta
• O recomendado para as mulheres é beber no máximo uma dose, o equivalente a
uma latinha (350 ml) de cerveja, uma taça (140 ml) de vinho ou uma dose (50 ml)
de uísque, sem ser em dias consecutivos.
• Em jejum, o álcool "sobe mais rápido". Então, nada de sair de casa
sem jantar para "economizar calorias". Coma alimentos leves: verduras,
carnes magras e frutas.
• No bar, escolha petiscos magros: tomate-cereja, azeitona, fundo de
alcachofra, tremoço, conservas sem muito azeite, champignon, queijos magros e
frios como peito de peru ou chester.
• Prefira bebidas que podem ser consumidas aos poucos, como caipirinha, gin
tônica e faça aquela dose render a noite inteira: ponha bastante gelo,
intercale com água e dê goles pequenos. "O álcool é volátil", lembra
Adriana Kachani. "Basta molhar a língua que ele já preenche sua boca com o
gosto característico."
• Caipirinha de limão e pinga ou saquê com açúcar tem cerca de 300 calorias. Se
trocar o açúcar pelo adoçante, o valor calórico cai para 190.
• Não misture álcool com energético. Além de calórico, esse drinque tem
carboidrato, cafeína e outros compostos que fornecem energia. Sentindo-se mais
disposta, você tende a beber mais.
• Observe o volume consumido: você toma só um copo de caipirinha? E o
"chorinho", você despreza? Quanto cabe na sua taça de vinho: só 140
mililitros mesmo? A quantidade a mais não contabilizada faz diferença na
balança!
Fonte:
boaforma.abril.com.br